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Contém alguns spoilers mas são bem poucos, só para que você fique com mais vontade de ver a série
Nesta quarta-feira, foi lançada a série documental ‘Brawn: The Impossible Formula 1 Story’ (Brawn: A História Impossível da Fórmula 1, em tradução livre). A produção da Disney está disponível no serviço de streaming Star+ no Brasil e, se você é fã da categoria máxima, vale muito a pena assistir.
O Motorsport.com conferiu a docusérie de quatro episódios logo que foi lançada e pode afirmar: a atração é ‘obrigatória’ para quem gosta ‘de verdade’ da elite global do esporte a motor, desde os bastidores técnicos da F1 até aspectos políticos e financeiros do topo do automobilismo, passando pelos pilotos, é claro. Neste sentido, aliás, um brasileiro é protagonista: Rubens Barrichello, cuja importância na série é equiparável à de seu então parceiro Jenson Button, o campeão de 2009.
Porém, antes de se focar na briga dos companheiros de Brawn GP pelo título — que também teve o alemão Sebastian Vettel, da Red Bull, na disputa que acabou vencida pelo britânico Button –, a produção resgata o contexto no qual a equipe do grande Ross Brawn foi criada no Mundial de F1.
Brawn, Button, Nick Fry, Barrichello e Richard Branson, dono da patrocinadora Virgin
A escuderia surge em ‘substituição’ à Honda, que acabou deixando a categoria por causa da crise econômica de 2008. A marca japonesa, que havia referendado a contratação do engenheiro inglês após sugestão do igualmente importante Nick Fry (CEO do time), optou por sair da F1 e a partir daí a incerteza com relação ao futuro da equipe sediada na Inglaterra virou a preocupação da vez na elite global do esporte a motor, gerando até solidariedade das adversárias, como se verá abaixo.
No fim, numa ‘operação suicida’ de Brawn e Fry, que não acharam alguém para comprar o time, os ingleses convenceram a Honda que poderiam adquirir a escuderia e assumir a operação da equipe, o que evitou grandes gastos trabalhistas para a montadora. Em troca, uma moeda de uma libra…
Mas e o motor? Uma ‘ajudinha’ se mostrou providencial!
Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images
Jenson Button, Brawn GP BGP001 Mercedes, Lewis Hamilton, McLaren MP4-24 Mercedes
Tendo assumido o time de Brackley e com prazo curtíssimo para fazer o orçamento fechar em meio a um cronograma apertado para terminar o carro da nova temporada, Brawn e Fry tinham um grande problema: de saída da F1, a Honda não forneceu motores para a Brawn GP, de modo que ainda não havia um impulsionamento para o carro BGP 001, ao qual Ross havia se dedicado desde o início de 2008 por vislumbrar uma boa oportunidade com as novas regras aerodinâmicas da F1.
Neste sentido, no decorrer de uma rara articulação das escuderias rivais em prol da salvação de uma concorrente — e de cerca de 700 empregos –, Martin Whitmarsh, da McLaren, sugeriu à Mercedes, com quem tinha exclusividade, que fornecesse motores para a Brawn. Para alegria de Martin, negócio fechado, o que representou um alívio ao cartola, já que a fabricante alemã queria adquirir a McLaren de Whitmarsh e Ron Dennis. Com a Brawn, novas ambições para os germânicos.
Acordo feito e daí em diante correria em Brackley para fazer o novo motor se adequar ao BGP 001, além do desafio de deixar tudo pronto para testes de pré-temporada e GP da Austrália. Turnos de trabalho extenuantes, algumas improvisações aqui e ali, mas o monoposto foi para a pista, embora os funcionários sequer soubessem se teriam empregos e/ou salários mantidos após Melbourne. Lá, porém, chegou a recompensa: dobradinha liderada por Jenson, que venceu 6 dos 7 primeiros GPs.
Sequência de Button, polêmica do difusor duplo e ‘volta’ de Rubens após ‘molada’ em Massa
Photo by: Charles Coates / Motorsport Images
Jenson Button, Brawn GP, Rubens Barrichello, Brawn GP
Com o sucesso da Brawn, a grande solução técnica do BGP 001 foi colocada em xeque: Ferrari, Red Bull e cia questionaram a legalidade do difusor duplo — também utilizado por Williams e Toyota — , mas a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) aprovou os modelos com tal design. Assim, Button enfileirou triunfos até a Turquia, enquanto Barrichello ‘sofria’ com os freios da Brawn. Entretanto, a sequência de Jenson acabou em Silverstone, quando Vettel voltou a vencer pela ‘RBR’.
O fim do sonho da vitória em casa abalou Button e, na etapa seguinte, a nona, no GP da Alemanha, a Brawn deu ordem para que ‘Rubinho‘ cedesse posição ao britânico, gerando uma tensão entre os companheiros e amigos. Barrichello criticou o time, mas deu a volta por cima ao vencer em Valência após sofrer na Hungria pela mola que se soltou de seu carro e atingiu Felipe Massa, brasileiro da Ferrari. Se a série não detalhou a questão de Rubens com o freio, o caso da mola foi bem retratado.
A produção mostra adequadamente a preocupação dos membros da Brawn com o acidente — os funcionários da equipe de Brackley, aliás, têm bastante destaque na docusérie, com protagonismo especial para os engenheiros de corrida, Andrew Shovlin (Button) e Jock Clear (Barrichello). O primeiro é hoje chefe de engenharia de pista da Mercedes, o segundo atua como coach de Charles Leclerc, monegasco da Ferrari. E os ingleses tiveram suas ‘tretas’ em 2009, mostra o documentário.
Bernie Ecclestone sempre impactante…
Photo by: Sutton Images
Max Mosley, presidente da FIA, e Bernie Ecclestone, chefão da F1
Em meio à tentativa de Rubinho de se aproximar de um já vacilante Jenson na ponta da tabela, o então chefão da F1 ‘deixou no ar’ um possível ‘favorecimento’ da Brawn a Button: “Quem disse que os carros eram iguais? Havia dinheiro para fazer só um carro bem…“. De todo modo, o triunfo de Rubens em Valência foi providencial, até porque o brasileiro não tinha contrato para a temporada toda, como Barrichello explica na docusérie. E ele teve a forte concorrência de alguns compatriotas.
Independente dos pilotos, Ecclestone tinha outros motivos para prestar atenção à Brawn, bem como seu par Max Mosley, da FIA. Apesar do patrocínio da Virgin da Austrália em diante, o time ainda precisava de capital e negociava apoios para cada GP enquanto esperava o recebimento do dinheiro relativo a 2008. Mas Bernie fazia ‘jogo duro’, e não só com a Brawn. Por causa dela, porém, ele teve de ceder numa guerra que quase ‘acabou’ com a F1. Tudo por dinheiro… Confira na série!
Rubinho vence na Itália e ‘se mete’ na briga pelo título. John Button entra em cena
Photo by: Charles Coates / Motorsport Images
Jenson Button com o pai John, que faleceu em 2014
O último episódio do documentário volta o foco para questões desportivas, com foco na entrada de Barrichello na briga pelo título contra Button e Vettel depois do triunfo de Rubinho em Monza. Jenson passa por dificuldades e a produção destaca seu relacionamento com o pai, John. Este, aliás, tem seu ‘lado’ da história contado por um personagem inesperado: o pai do inglês Lewis Hamilton, Anthony. E o então piloto da McLaren ‘interfere’ na dramática briga pelo título, encerrada no Brasil.
O Motorsport.com não trará mais spoilers do que aconteceu em Interlagos, mas Button ficou com a taça, como se sabe. Disso, a série parte para a transição de Brawn GP para Mercedes F1. O bom entendedor repara na importância da saída da BMW da categoria para a formação do time alemão, cujo CEO Dieter Zetsche é citado de forma breve mas bem importante no ‘doc’. Tudo contado pelo ator canadense Keanu Reeves, que mostra personalidade frente a Bernie e Luca di Montezemolo.
Ele vai muito bem na apresentação da série e ela não cai na tentação de ‘inventar’ narrativas, como a rivalidade ‘fabricada’ por Drive to Survive (DTS) entre Lando Norris e Carlos Sainz na McLaren. Aliás, o doc da Brawn também acerta no roteiro ao retratar um dos campeonatos mais históricos da F1. Focada em esporte, politicagem e dinheiro, a produção é um ‘prato cheio’ para quem gosta da categoria, diferentemente do DTS sobre 2021. A atração da Netflix parece mais voltada ao Twitter…
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