O que o novo chefe oferece à Haas? Ele pode ’emular’ a McLaren?

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Nesta quarta-feira, a Haas confirmou que Gunther Steiner deixa o comando da equipe na Fórmula 1 e que o ítalo-americano será substituído pelo japonês Ayao Komatsu na chefia do único time dos Estados Unidos no grid da categoria, marcando o fim de uma era na escuderia.

O movimento da Haas reflete uma tendência recente na elite global do esporte a motor, tendo em vista que uma série de equipes têm optado por engenheiros sêniores como Komatsu como seus novos comandantes: a McLaren, chefiada pelo italiano Andrea Stella, é o melhor exemplo.

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Na última temporada, quando Stella assumiu as rédeas do time britânico de Woking, a escuderia estava em um péssimo início de campeonato, mas a gestão técnica de Andrea impulsionou uma reação como poucas vezes se viu na categoria máxima do automobilismo mundial.

Assim como o dirigente italiano, Ayao ocupou um cargo de diretoria antes de ser alçado ao comando: como chefe de engenharia de pista da Haas, o nipônico coordenava os engenheiros da equipe norte-americana. Antes, Komatsu teve cargos importantes na Lotus/Renault e na BAR.

Ele chegou à Haas para a primeira temporada do time na F1, em 2016, e conhece a escuderia ‘de cabo a rabo’. Agora, como chefe da equipe de 2024 em diante, espera-se dele o mesmo foco técnico de Stella na McLaren, conforme deixou claro o dono do grupo dos EUA, Gene Haas.

“Ao nomear Ayao Komatsu como chefe da equipe, temos fundamentalmente a engenharia no centro da nossa gestão”, destacou o proprietário norte-americano. Seu pensamento: na era do teto de gastos, ainda mais com os carros de efeito solo, é preciso maximizar os recursos do time.Conheça o histórico de Ayao Komatsu e o contexto por trás da opção de promovê-lo por parte de Gene Haas

Tal mentalidade, aliás, está no cerne do atrito entre Gene e Steiner, o que acabou gerando a saída de Gunther, cujo argumento consistia no pedido por mais investimentos na estrutura da Haas. O dono tinha suas ressalvas e ainda crê que a equipe tem o que é necessário: é preciso gerir bem.

Gene Haas, Owner and Founder, Haas F1, Guenther Steiner, Team Principal, Haas F1

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

Gene Haas, proprietário e fundador da Haas F1, Guenther Steiner, diretor da equipe, Haas F1

É o que Gene destacou. “Precisamos ser eficientes com os recursos que temos, mas melhorar nossa capacidade de projeto e engenharia é fundamental para nosso sucesso. Estou ansioso para trabalhar com Ayao e, fundamentalmente, garantir que maximizemos nosso potencial – isso realmente reflete meu desejo de competir adequadamente na F1“,  afirmou ele, cuja estrutura vai para seu décimo campeonato na elite global do esporte a motor.

Do ponto de vista da Haas, há benefícios claros em ter um engenheiro no topo — e é uma conclusão a que outras escuderias também chegaram nos últimos anos, já que se vê cada vez menos chefes de equipe com o perfil de executivos corporativos, que predominavam no passado.

Além da McLaren com Stella, nos últimos 12 meses vimos outros engenheiros sêniores ascendendo ao comando: James Vowles na Williams; Bruno Famin na Alpine; e Laurent Mekies na AlphaTauri.

No entanto, chefiar uma equipe de F1 não é exclusivamente técnico, de modo que seria um erro pensar que simplesmente promover um engenheiro ao comando ‘resolve o problema’. É o que ponderou Toto Wolff, executivo que está à frente da Mercedes e viu seu antigo diretor de estratégia Vowles assumir a Williams: segundo o chefe de Lewis Hamilton, James é um bom nome para a tradicional time inglês justamente porque tem domínio dos aspectos comerciais e políticos.

James Vowles, Team Principal, Williams Racing, on the pit wall

Foto de: Steven Tee / Motorsport Images

James Vowles, diretor de equipe da Williams Racing, no muro dos boxes

“Você precisa ter entendimento comercial e perspectivas políticas e não deve se deixar enganar pelo que lhe foi dito por alguém da área técnica. O histórico de James é de engenharia, mas eu o colocaria muito mais no meu campo em termos de habilidades, não é só um ‘engenheiro puro’. Mas, dito isso, o que importa é a personalidade. Você pode ter formação em engenharia e ainda ter a personalidade certa para ser o chefe, ou pode ter formação em negócios e contribuir.” 

Steiner era um dos que possuíam formação técnica e comercial, abrangendo os dois pilares. Ele foi fundamental para colocar a equipe em funcionamento, tendo liderado o projeto desde 2014, e desempenhou um papel crucial para mantê-la viva durante a Covid, quando havia a possibilidade de a escuderia ser fechada definitivamente. Além disso, foi o principal responsável por colocar o time numa plataforma comercial mais sólida, o que incluiu o patrocínio máster pela Moneygram. 

Ele também foi uma importante imagem pública da equipe, sendo a grande estrela de Drive to Survive, da Netflix, e manteve a Haas no centro das atenções da mídia com suas opiniões honestas e diretas — mesmo que isso o colocasse em maus lençóis às vezes. 

Ninguém negará que a saída de Steiner, depois que Haas decidiu não renovar seu contrato, será uma perda para a equipe. Komatsu tem uma personalidade muito diferente e, com certeza, não será tão franco – e nem tão chamativo – quanto Steiner era. 

Ayao Komatsu, Chief Engineer, Haas F1, Guenther Steiner, Team Principal, Haas F1

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

Ayao Komatsu, engenheiro-chefe da Haas F1, Guenther Steiner, diretor de equipe da Haas F1

No mundo da F1, os engenheiros podem ser conhecidos pelo tipo de abordagem enérgica que faz maravilhas no calor da competição, mas que, às vezes, pode deixar as pessoas com o pé atrás. Também é importante observar que as equipes que colocaram um engenheiro no comando também fizeram um esforço extra para garantir um suporte ao redor deles nas áreas em que eles podem não ser tão fortes. 

Stella, por exemplo, formou uma aliança com o CEO Zak Brown, enquanto a Red Bull garantiu que Mekies trabalhará ao lado de Peter Bayer na AlphaTauri. E embora a Haas tenha planos de nomear um diretor baseado na fábrica para cobrir todos os departamentos e assuntos não relacionados à competição, a configuração ainda significa que Komatsu enfrentará responsabilidades no paddock que vão além do que ele tem feito até agora. 

Embora seja claramente muito cedo para julgar o impacto que Komatsu pode causar em 2024, seria ingênuo pensar que é ‘automático’ colocar um engenheiro como ele no topo e ter o tipo de reviravolta que Stella desencadeou na McLaren. 

Stella talvez seja um caso único. Ele chegou ao comando quando a equipe que já estava bastante avançada na mudança de rumo, depois de perceber, no GP da França de 2022, que precisava traçar um caminho diferente. Andrea também era uma personalidade popular e de destaque dentro da fábrica de Woking — e provou ter o caráter perfeito para liberar o potencial de todos dentro da McLaren. 

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Foto de: Sam Bloxham / Motorsport Images

Andrea Stella, diretor da equipe, McLaren, Lando Norris, McLaren, 3ª posição, Oscar Piastri, McLaren, a equipe da McLaren comemora após a corrida

Komatsu está assumindo o comando de uma equipe Haas que está em uma situação totalmente diferente. Ela terminou em último lugar no campeonato de construtores em 2023 e terminou o ano parecendo estar um pouco perdida com seu carro depois que as atualizações de Austin não trouxeram o passo à frente que esperava. Resta saber se a intertemporada permitiu ou não que ela desse as respostas sobre sua escolha de conceito.

Para piorar, as coisas não ficam mais fáceis com a saída do diretor técnico Simone Resta. Ou seja, Komatsu está se tornando chefe de uma equipe num estágio muito anterior ao da McLaren quando Stella assumiu as rédeas no ciclo de reconstrução da escuderia, o que significa que igualar o tipo de progresso que a estrutura papai conseguiu ano passado será uma tarefa quase impossível. 

Stella também chegou após um grande investimento em novas instalações — como o simulador e o túnel de vento — e em campanha de recrutamento de pessoal, com Rob Marshall, ex-Red Bull, e David Sanchez, ex-Ferrari. Ayao, por sua vez, tem de fazer o que der com o que tem.

Além disso, o  japonês também tem uma personalidade muito diferente da de Stella. Ele tem uma atitude firme e, visto de fora, não parece ter o ‘toque suave’ que se tornou um dos pilares do estilo de liderança popular de Stella. 

Ayao Komatsu, Chief Engineer, Haas F1 Team, Kevin Magnussen, Haas F1 Team, on the Sprint grid

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

Ayao Komatsu, engenheiro-chefe da Haas F1 Team, Kevin Magnussen, Haas F1 Team, no grid da Sprint

Portanto, será interessante ver como Komatsu lidará com essa transição de pitwall para líder. Mas uma coisa a favor de Komatsu é que ele conhece a Haas por dentro e por fora, tendo sido um dos principais nomes do time em seus anos de formação. Ele passou por seus vários altos e baixos. 

E, embora a Haas continue sendo a menor equipe da F1, ele vê nela um potencial positivo. Em entrevista ao Motorsport.com ano passado, Komatsu falou sobre sua opinião a respeito da Haas: “Somos uma verdadeiro time. Não temos, digamos, inércia ou burocracia, como alguns outros”. 

“Se tivermos que tomar uma decisão, tomamos. Não me preocupo com o que as outras pessoas pensam. Não preciso pensar se serei demitido se tomar a decisão errada. Porque se eu tomar uma decisão errada e tiver que explicá-la ao meu chefe, eu o farei — não preciso esconder nada.” 

“Aqui, na Haas, você não precisa ter medo de tomar decisões. Desde que a maioria delas esteja certa, isso é o que realmente importa. Ninguém pode estar 100% certo o tempo todo. Mas se você tiver medo de tomar suas próprias decisões, isso nunca vai funcionar”, completou. Em sua nova função, os holofotes sobre suas decisões serão maiores do que nunca — e como chefe, haverá muito menos espaço para errar. A ver os próximos capítulos.

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